sábado, novembro 10, 2007
A grande verdade
Dava pra ver além de seus olhos
Cada nota do piano fazia seu olhar ficar mais e mais longe...
Pensando no tempo, ela seguia
Inerte diante de seus conflitos internos.
Jurou salvar o mundo
Achando que assim salvaria sua alma
Tinha que ser nobre para merecer viver
E para isso pagava um preço muito alto...
Onde encontraria, enfim, sua completude?
Qual seria seu real caminho?
Lágrimas sobre sua face pensativa.
O mundo não precisa dela
Mas ela acha que sim
Isso reduz um pouco a insignificância de sua existência.
Inconcebível pra ela apenas arrastar seus dias
Dia-após-dia
Sem um sentido maior.
Se Deus não existia pra ela, de quem seria serva?
Para quem viveria?
Qual a razão?
Dentro de suas tempestades internas, sim, ela era feliz.
Talvez seu único erro fosse esse questionamento incessante
Sobre tudo.
Um dia aprendera que os mistérios eram muitos
E fora apresentada ao ponto de interrogação.
Passou a ser seu parceiro de dias e noites.
Uma droga que aos poucos consumia seus dias e seus sentidos
Ora paralisando, ora impulsionando-a a ir além
Um vício que se tornou parte de sua existência.
Mas uma vez que tomamos consciência de algo
Como mentir para nós mesmos?
Como fingir que a tênue linha do conhecimento não fora ultrapassada?
Ainda assim, sabia que morreria sem nem ao menos chegar perto da grande verdade
A verdade que rege todos os acontecimentos.
Essa era talvez inacessível ao nosso cérebro tão limitado e cartesiano.
Seu corpo a limitava.
Por que não podia ser apenas essência?
E pairar por aí?
Aos poucos seus olhos foram retomando o foco.
A cada nota do piano ela ficava mais e mais perto.
Respirou fundo, E ligou-se novamente no mundo.
O efeito da droga Interrogação havia passado.
Estava livre, temporariamente, do grande mistério.
Estava presa, temporariamente, à sua insignificante condição humana.
quarta-feira, outubro 24, 2007
Respiração
E feito cantiga de ninar
Sua respiração hoje me embala os sonhos...
Vou fundo em cada porção de ar
que entra em seu peito
e faz teu sangue o manter vivo.
Hoje algo muito bom em mim reviveu.
Hoje as flores tomaram conta de meu quarto
Com sua beleza e cheiros exuberantes...
Vi você passar em meu dia
Disfarçado de jasmim e côco.
Vibramos na mesma sintonia.
Pude ver sua vida, paralela à minha
Com apenas uma delgada película entre elas
Foi só fechar os olhos
Que com o jeito de uma gata
Eu ultrapassei o limite do real e do imaginário.
E cá estávamos nós.
Enfim juntos novamente
Deitados lado a lado
Olho no olho
Respiração com respiração.
E eu pude te ver,
Sentir seu cheiro e pele
E dormir em paz...
domingo, outubro 21, 2007
Beije-me
Beije-me
Esqueça qualquer contratempo essa tarde
Apenas beije-me
Como se minha boca fosse a extensão da sua
E juntas cantassem a mais bela melodia
Beije-me com todo o ardor que você tem em seu peito
Beije-me completamente
Deixe todo esse medo se transformar em impulso de vida
Viva!
Beije-me!
Sinta cada pedaço de meu corpo
Cada fração de minha alma
Sinta que é em sua boca que a minha encontra abrigo
Que é com você que eu me identifico
E fico
Horas e anos se necessário
Mas não pense nisso agora
Apenas beije-me.
sábado, outubro 20, 2007
Passo e repasso
O peito sofre mas entende.
Ignora o fatalismo que aconteceria no “se”,
Alimenta-se de boas lembranças
E recosta na sombra certa do amor.
Desiste de bater por tempos inexistentes
E por medos imaginários.
Cerra os ouvidos ao talvez...
Cala-se e recolhe-se ao aconchego do sim,
Que não garante, mas anestesia, a histeria do não.
Conforta-se na certeza do agora
E sublima-se na possibilidade do eterno.
Ganha coragem e segue adiante
A cada compasso
Dia-após-dia
Passo e repasso.
quinta-feira, outubro 18, 2007
Choro semente de mim
A dor do mundo
Se fez caroço de azeitona
Escorregou goela abaixo
E subitamente, explodiu.
Garganta dilacerada
Pela surpresa que maltrata
Nada pude fazer,
Sequer gritar.
Do guardião da serpente
Jamais escutariam.
Era cedo demais pra deduções.
Explicar para o coração é que é difícil...
Vai explicar que o amor o rejeita
Por medo de perder...
Vai explicar que o bem querer
Dá lugar ao mal querer...
Vai tentar explicar pra ver o bafafá
O lelelê.
Incapazes de secar o vazamento de lágrimas.
Incapazes de se juntarem em oração para pedir.
Quando o que delimitou o amor foi vontade alheia.
O que o homem uniu, o homem separa
E o que o amor uniu, o coração sauda.
Com a solidão inata ao meu ser.
Choro o que independe.
Choro a frustração da alma.
Choro... muito... sim
Pra lavar de vez toda a dor
E recomeçar semente no aconchego de mim.
terça-feira, outubro 16, 2007
Menina Linda
Menina Linda
De ares mundanos e pensamentos celestiais...
Cabe em ti tudo o que seus olhos vêem?
Cabe no peito tudo que seu coração sente?
Como fazes para caber em si
O que todo um mundo não comporta?
Malabarismo de frenesi
Cachoeira de si mesma na imensidão dos porquês.
Porquês, poréns, contudos e todavias
É tudo tão cheio de vida
E de cor e de cheiro
E de sentidos e sentimentos
Que palavras são minúsculas letrinhas
Na imensidão da sopa do cordel.
Ah, menina linda dos olhos cor de mel...
Segue em paz teu caminho de estrelas
Segue estrela em meio à escuridão...
Que teu brilho irradie amor e força
Para aqueles que cruzam seu caminho
E que, no caminho deles,
Você possa ser melodia e paz.
Que seus saltos-mola alcancem os mais longínquos céus
Que seus olhos vejam além do horizonte
Que a vida seja macia
Pelas mãos de quem só quer o bem comum.
Que sua vida seja agridoce na medida certa
Na medida exata
Pra cobrir os pés do frio
E alimentar de sonhos a boca.
Voe.
terça-feira, outubro 09, 2007
Cada sempre um dia mais...
Assim eu morro de saudade
Cadê vc por essas bandas?
Nunca mais ouvi sua voz gargalhar em meus ouvidos
Nunca mais vi seus olhos brilharem
Radiantes...
Radiante!
Ô quanto amor...
Ô quanta saudade...
Pensar em você me faz juntar extremos
Em um único ponto
de explosão
E eu explodo.
Cada pedacinho pra um lado
Na esperança de ao menos um chegar até vc
Acariciando sua face
E repousando morno em seu coração
Receba meu bom-dia diário
Levado pelo passarinho mais alegre que pousa no galho perto de sua janela.
T. A.
segunda-feira, outubro 01, 2007
O que se pode dizer do amor?
O que se pode dizer do amor? Talvez a impossibilidade do discurso. E era assim que ela se sentia. Não conseguia entender o que se passava por dentro. Um mês inteiro de segurança e obstinação posto em cheque em apenas um dia.
Ela estava lá: magnífica, disposta a dar continuidade a sua vida. Tudo parecia estar ao seu favor... Calafrio. O que ela menos queria naquela noite aconteceu: ele.
Desencontros em meio às luzes inquietas e do som bate-estaca da boate. Mas a certeza de sua presença de certa forma a incomodava. Arriscaram uma primeira dança. Ufa! Coração pulsando normalmente. Nenhum sinal de alerta.
Mas de repente veio-lhe a cabeça os inúmeros casos que ele deveria ter tido desde a separação. O sangue esquentou e uma ânsia de vômito subiu-lhe à boca. Ela saiu. Subiu. O som não mais a impulsionava a dançar. Queria parar com aquele descontrole interno. Que poder era esse que ele exercia sobre ela?
Ele subiu. Não devia ter sido atrás dela. Não era muito de seu feitio tal atitude. O fato é que os olhares de novo se cruzaram. Ele seguiu. Até onde ela poderia aguentar? Mistério. "Você está bem"? Foi uma das últimas coisas que ouviu antes de seguir o rastro dele.
Como achá-lo? Todos de preto, muita gente, luz piscando e fumaça. Mas sabia que iria encontrá-lo. Sempre o encontrava. Dito e feito. Ela parou sorrindo em sua frente e pôs-se a dançar. Ele riu. Agora estava mais segura. Talvez fosse esse o tal poder.
E dançaram abraçados numa sedução total. Os rostos se alisando, a respiração deslizando sobre a pele. E um longo beijo sucedeu. A festa inteira parou. A musica, as luzes, as pessoas. Tudo ficou estático reverenciando aqulele encontro de línguas e mãos e pernas e desejos.
Saíram. Pegaram um taxi. Amanheceram o dia se amando na cama dele. Despertaram. Cumplicidade, carinho, respeito. Caras e gemidos de extremo prazer... e satisfação. Um mês sem esse contato explosivo. Ela largou mão dos fantasmas: sentiu-se segura e tranqüila; ele se entregou por inteiro: uma criança grande precisando de atenção e cuidados.
Um longo dia de contemplação. Ele a levou para casa. O clima estava leve como nunca. Despediram-se. Ela não teve mais pesadelos. Ele, só deus sabe o seu paradeiro.
sábado, setembro 22, 2007
Quantas vidas poderiam caber em mim?
Esse desatino que me persegue
É o mesmo que me cala.
Quando recuar é avançar?
O céu se abre azul por detrás de minha cortina amarela.
Nunca quis ter vida cor-de-rosa
Só se fosse com carvão
Ao som de Marisa que já me embebedou aos montes.
Mas acho que nem assim.
Cores.
Dores.
Sortes mil nesse céu espetacular.
É tanto mundo, é tanto chão, é tanta vida
É tanto cheiro, é tanto gosto, é tanta coisa!
Ai, meu deusu!
Por que diabos sou só uma?
Parece-me impossível a completude
Quando tudo é parte de um todo
Que se reparte em minúsculas partes espalhadas por aí...
Quantas vidas poderiam caber em mim?
domingo, setembro 16, 2007
Ergo-me água fresca
Sim
Acaba tudo assim
De volta e sempre em mim
Deslizando feito água fresca em minha boca
Tô na boca de lobo
Espreitando por entre as ramificações de minha alma
Dias claros, vento brando
Tropeço assim em minhas certezas
Ergo-me, intacta, majestosa
Pronta pra próxima lágrima
Que venham todas!
- em doses homeopáticas, por gentileza –
E na dança do tempo,
Cambaleio suavemente
De lá em lá
De cá em cá
Sem maiores previsões
Sem maiores expectativas
Apenas vou
Sigo
Suspiro.
sábado, setembro 15, 2007
Tá na cara de mim
Tá na cara, tá na alma
Tá em tudo que é de bom em mim
Tá até na amargura e nos vazios que me compreendem
Tá estampado no corpo, na pele, na aura
Tá bem dentro e tão acessível
Faz sentido, faz sol e arco-íris também
E até nos dias de chuva é tudo tão claro
Água cristalina
Mar transparente
Rio translúcido
E de tão bom e tão bem
Não há do que se queixar
Saudade é tempero, não machuca
Choro é passageiro, não inunda
Riso é fértil e aduba os dias
Tá estampado nos dedos já tão enrugados
Tá tatuado no sonho de harmonia
Tá tudo aí, bem debaixo da sombra
Diante do nariz
Dentro de mim
Tá tão assim.
sexta-feira, setembro 14, 2007
Muitas eternidades
Amo.
Com cada poro e aura de meu corpo
Com cada riso e lagrima
Amo.
Te.
Muito.
Com cada pedaço de meu ser
Com toda minha existência
Inocência.
Indecência.
Incoerência.
E por não saber não te amar
Questionar seria inútil e vago.
Nunca quis aprender a te esquecer.
Dói pensar-me sem você por dentro.
Choro você não estar ao lado.
Mas é momento.
E meu amor vale muitas eternidades...
quarta-feira, setembro 12, 2007
Chega dá gosto rimar
Um por dia e assim eu vou
Sem muito mistério de padaria
Sem pão de feitiçaria
A rima me toma de um jeito
Que de feio, um dia já desisti de rimar
Mas hoje ela vem meio que sem licença
Corre, pula e adentra
Todo e qualquer lugar
É sentimento de tudo que é jeito
Espalhado por aí a migué
E ela vem de qualquer maneira
Adentra o peito e toma a forma que quer
Fala de amor, de carinho e de birra
Canta a esperança à moda antiga
E eu, feito boneca mole, me ponho a dançar
Mas eu bem que gosto, seu moço
Que ela vem fazendo aquele alvoroço
Que chega dá gosto rimar
terça-feira, setembro 11, 2007
Dou minha cara a tapa e tiro meu chapéu
Fico no silêncio da inexatidão
O que não está fora não é
E o que não é, não dói
Malabarismo de ilusão.
Interfaces, entre faces, em ti faces
Como se o proibido corresse de mim
Em mim, para mim
E todo o ciclo infindando com o pôr-do-sol
Deixo-me a flor mais perfumada de fim de tarde
Deixo-me o mar gentil de mei’ de dia
Deixo-te e deixo-me rastro de eternidade
Não sei como seria e nem ao certo como ainda é
Não sei se venceria toda e qualquer maré de fé
Não sei, mas como saberia o que era e o que é?
E nesses tropeços de concordâncias
In-acertanças mil
Corro pra lá, volto pra cá.
Quando menos me espero
Mais me impressiono
E cogito o de sempre lá intacto
Tantas verdades soltas ao léu...
E eu, de refém viro réu
Fazer o quê?
Dou minha cara a tapa e tiro meu chapéu.