terça-feira, janeiro 24, 2006

Caminho

Sapateado na cauda de um piano-de-cauda. Especialmente pra Sólon - o piano - mas inspirado em Chicago - o sapateado. Na verdade, em Vitor Freire. Ele ainda não tem livro, mas já é meu segundo amigo bibliografia. A primeira foi Cupêco (vide Renata Trindade Rocha).
Não me esqueço nunca daquelas nuvens. Aquelas que, cansadas de serem brancas, esperaram o nascer de um novo dia para nascerem coloridas. Ou resolveram suicidar-se explendorosas no pôr-do-sol. Um brinde de vinho branco às fabulosas nuvens multi-cor.
As estradas por onde passo são bonitas. São seguras. São tranqüilas. Mas hoje quase entro em pânico por causa dos concretos que as margeiam. Sou Claustrofóbica. As minhas estradas que construo e sigo são bonitas, porém nem sempre seguras, nem sempre tranqüilas. Mas não tenho medo delas: confio em mim. Não coloco concreto delimitando-as. Elas são como as nuvens: nascendo coloridas, suicidando-se explendorosas. Gosto de deixar meus pensamentos virem, irem e virem diferentes... ou iguais. Não me importo muito em querer colocar o tempo num vidrinho de amostra de perfume. Seja ele francês ou made in Lapa. O (meu) tempo é claustrofóbico. Descobri isso no dia que quase o matei por inocência (tive as melhores das intenções). De boas intenções o mundo está cheio. Pena que tantos tenham parado nesse primeiro passo. Estou começando a malhar minhas pernas para dar o segundo, depois de 23 anos. Meu tempo é macio comigo. Ele sabe que nem sempre sou esperta. Mas ele sabe que eu tento. E que eu sou só amor.
Tudo bem... assumo: às vezes sou também um pouco rancor. Mas nada que não seja reversível com um simples sorriso e um abraço. Ainda não recebi alguns abraços. Ou não pude sentí-los, talvez. Não existe uma verdade absoluta. Eu tento, mas às vezes é difícil ver a verdade do outro.
Confio no meu taco, na minha mira, no meu sexto sentido, na minha intuição. Confio no meu coração, confio na minha razão. Eles andam em linhas paralelas, sempre de mãos dadas, aos beijos e abraços.
Um dia me vi apaixonada por mim e me perdoei. Me perdoei por todas as dores que eu trazia no peito. E hoje quase não dói mais. Bem... O passado não, mas o futuro, em partes. Só se eu fosse mil pra caber dentro de mim. Mas sou só uma e carrego o mundo inteiro na barriga. Resolvi tirá-lo das costas, estava ficando corcunda.
Um dia vou parir MEU MUNDO de dentro de mim... Por enquanto estou gestando. Estou grávida de sonhos. E pouco a pouco, um a um, vou parindo minha prole. Um dia sai uma pessoa de verdade. Mas só depois. Daqui há muitos e muitos dias, meses e anos. Vou mostrar-lhe o mundo meu que eu tirei das costas, pus na barriga, gestei e pari. Vou mostrar as cores, as formas, os cheiros, os gostos, os arrepios, o mar, a vida. Vou mostrar-me por dentro e por fora, entranhas e pele, sangue e suor, sonhos e sorrisos. E vou me desfazer e refazer-me a cada dia. Sem medo de minhas mortes e de faxinas nos armários. Sem medo de perder, de me perder, de perder o rumo. O vento sempre dá uma direção. O mar sempre desponta no horizonte. O ciclo sempre continua. Um dia eu vou e por lá ficarei. De mim restarão lembranças no coração dos queridos e esperança no coração dos desconhecidos. Pra isso estou aqui. Esse é o meu caminho. Da Mãe Terra eu nasci, prá Mãe Terra voltarei.
Uma vez li em Rubem Alves: se deus tivesse pedido minha opinião antes de criar o mundo, com certeza o mundo seria melhor.

Com certeza.
Com certeza imperfeito.
Com certeza bem melhor.

***

Um comentário:

Vitor Freire disse...

"amigo bibliografia"

ai, ai, finha, só você pra aprontar essas coisas!

Que bom ver isto. Beijo com carinho.