quarta-feira, outubro 24, 2007

Respiração


E feito cantiga de ninar

Sua respiração hoje me embala os sonhos...

Vou fundo em cada porção de ar

que entra em seu peito

e faz teu sangue o manter vivo.

Hoje algo muito bom em mim reviveu.

Hoje as flores tomaram conta de meu quarto

Com sua beleza e cheiros exuberantes...

Vi você passar em meu dia

Disfarçado de jasmim e côco.

Vibramos na mesma sintonia.

Pude ver sua vida, paralela à minha

Com apenas uma delgada película entre elas

Foi só fechar os olhos

Que com o jeito de uma gata

Eu ultrapassei o limite do real e do imaginário.

E cá estávamos nós.

Enfim juntos novamente

Deitados lado a lado

Olho no olho

Respiração com respiração.

E eu pude te ver,

Sentir seu cheiro e pele

E dormir em paz...

domingo, outubro 21, 2007

Beije-me

Beije-me

Esqueça qualquer contratempo essa tarde

Apenas beije-me

Como se minha boca fosse a extensão da sua

E juntas cantassem a mais bela melodia

Beije-me com todo o ardor que você tem em seu peito

Beije-me completamente

Deixe todo esse medo se transformar em impulso de vida

Viva!

Beije-me!

Sinta cada pedaço de meu corpo

Cada fração de minha alma

Sinta que é em sua boca que a minha encontra abrigo

Que é com você que eu me identifico

E fico

Horas e anos se necessário

Mas não pense nisso agora

Apenas beije-me.

sábado, outubro 20, 2007

Passo e repasso


O peito sofre mas entende.

Ignora o fatalismo que aconteceria no “se”,

Alimenta-se de boas lembranças

E recosta na sombra certa do amor.

Desiste de bater por tempos inexistentes

E por medos imaginários.

Cerra os ouvidos ao talvez...

Cala-se e recolhe-se ao aconchego do sim,

Que não garante, mas anestesia, a histeria do não.

Conforta-se na certeza do agora

E sublima-se na possibilidade do eterno.

Ganha coragem e segue adiante

A cada compasso

Dia-após-dia

Passo e repasso.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Choro semente de mim


A dor do mundo
Se fez caroço de azeitona
Escorregou goela abaixo
E subitamente, explodiu.
Garganta dilacerada
Pela surpresa que maltrata
Nada pude fazer,
Sequer gritar.

Os ouvidos surdos
Do guardião da serpente
Jamais escutariam.

Era tarde demais pra um monte de coisa
Era cedo demais pra deduções.
Explicar para o coração é que é difícil...
Vai explicar que o amor o rejeita
Por medo de perder...
Vai explicar que o bem querer
Dá lugar ao mal querer...
Vai tentar explicar pra ver o bafafá
O lelelê.

Mãos ávidas nas palavras
Incapazes de secar o vazamento de lágrimas.
Incapazes de se juntarem em oração para pedir.

Pura perda de tempo
Quando o que delimitou o amor foi vontade alheia.
O que o homem uniu, o homem separa
E o que o amor uniu, o coração sauda.

Choro na dor do silêncio,
Com a solidão inata ao meu ser.
Choro o que independe.
Choro a frustração da alma.
Choro... muito... sim
Pra lavar de vez toda a dor
E recomeçar semente no aconchego de mim.

terça-feira, outubro 16, 2007

Menina Linda


Menina Linda
De ares mundanos e pensamentos celestiais...
Cabe em ti tudo o que seus olhos vêem?
Cabe no peito tudo que seu coração sente?
Como fazes para caber em si
O que todo um mundo não comporta?
Malabarismo de frenesi
Cachoeira de si mesma na imensidão dos porquês.
Porquês, poréns, contudos e todavias
É tudo tão cheio de vida
E de cor e de cheiro
E de sentidos e sentimentos
Que palavras são minúsculas letrinhas
Na imensidão da sopa do cordel.

Ah, menina linda dos olhos cor de mel...
Segue em paz teu caminho de estrelas
Segue estrela em meio à escuridão...
Que teu brilho irradie amor e força
Para aqueles que cruzam seu caminho
E que, no caminho deles,
Você possa ser melodia e paz.

Que teus passos sejam firmes e suaves
Que seus saltos-mola alcancem os mais longínquos céus
Que seus olhos vejam além do horizonte

Que a vida seja macia
Pelas mãos de quem só quer o bem comum.
Que sua vida seja agridoce na medida certa
Na medida exata
Pra cobrir os pés do frio
E alimentar de sonhos a boca.

Voe.

terça-feira, outubro 09, 2007

Cada sempre um dia mais...


Assim eu morro de saudade

Cadê vc por essas bandas?

Nunca mais ouvi sua voz gargalhar em meus ouvidos

Nunca mais vi seus olhos brilharem

Radiantes...

Radiante!

Ô quanto amor...

Ô quanta saudade...

Pensar em você me faz juntar extremos

Em um único ponto

de explosão

E eu explodo.

Cada pedacinho pra um lado

Na esperança de ao menos um chegar até vc

Acariciando sua face

E repousando morno em seu coração

Receba meu bom-dia diário

Levado pelo passarinho mais alegre que pousa no galho perto de sua janela.


T. A.

Cada sempre um dia mais...

segunda-feira, outubro 01, 2007

O que se pode dizer do amor?


O que se pode dizer do amor? Talvez a impossibilidade do discurso. E era assim que ela se sentia. Não conseguia entender o que se passava por dentro. Um mês inteiro de segurança e obstinação posto em cheque em apenas um dia.

Ela estava lá: magnífica, disposta a dar continuidade a sua vida. Tudo parecia estar ao seu favor... Calafrio. O que ela menos queria naquela noite aconteceu: ele.

Desencontros em meio às luzes inquietas e do som bate-estaca da boate. Mas a certeza de sua presença de certa forma a incomodava. Arriscaram uma primeira dança. Ufa! Coração pulsando normalmente. Nenhum sinal de alerta.

Mas de repente veio-lhe a cabeça os inúmeros casos que ele deveria ter tido desde a separação. O sangue esquentou e uma ânsia de vômito subiu-lhe à boca. Ela saiu. Subiu. O som não mais a impulsionava a dançar. Queria parar com aquele descontrole interno. Que poder era esse que ele exercia sobre ela?

Ele subiu. Não devia ter sido atrás dela. Não era muito de seu feitio tal atitude. O fato é que os olhares de novo se cruzaram. Ele seguiu. Até onde ela poderia aguentar? Mistério. "Você está bem"? Foi uma das últimas coisas que ouviu antes de seguir o rastro dele.

Como achá-lo? Todos de preto, muita gente, luz piscando e fumaça. Mas sabia que iria encontrá-lo. Sempre o encontrava. Dito e feito. Ela parou sorrindo em sua frente e pôs-se a dançar. Ele riu. Agora estava mais segura. Talvez fosse esse o tal poder.

E dançaram abraçados numa sedução total. Os rostos se alisando, a respiração deslizando sobre a pele. E um longo beijo sucedeu. A festa inteira parou. A musica, as luzes, as pessoas. Tudo ficou estático reverenciando aqulele encontro de línguas e mãos e pernas e desejos.

Saíram. Pegaram um taxi. Amanheceram o dia se amando na cama dele. Despertaram. Cumplicidade, carinho, respeito. Caras e gemidos de extremo prazer... e satisfação. Um mês sem esse contato explosivo. Ela largou mão dos fantasmas: sentiu-se segura e tranqüila; ele se entregou por inteiro: uma criança grande precisando de atenção e cuidados.

Um longo dia de contemplação. Ele a levou para casa. O clima estava leve como nunca. Despediram-se. Ela não teve mais pesadelos. Ele, só deus sabe o seu paradeiro.