sábado, outubro 15, 2005

ROSEIRAL

E ali eu sentei e chorei.
Pela primeira vez em minha vida,
Eu estava no meio de um roseiral.

Sol de outono,
Ali eu sentei e chorei.
Talvez nao o choro do corpo,
O choro da alma.

Sempre imaginei como seria estar num roseiral
E la estava eu
Sentada na grama
Pes descalcos
Sol na face e nos cabelos
O vento a brincar com eles
Com as folhas,
E com as rosas:
rosas, amarelas, vermelhas, brancas
Grandes, pequenas
Desabrochadas e aos botoes.

Ceu azul como a muito nao via.
Grilos e carros ao horizonte
Fazendo a melodia do instante.
Nada poderia me alcancar ali.

E la estava eu sentada
Chorando o choro da alma
Com o sol a se por detras da ponte
Sempre quis entrar num roseiral
E la estava eu
Ouvindo o vento me dar boas vindas.

sexta-feira, outubro 14, 2005

sAssumo: cai na tentacao da carne
Um prato de macorronada,
Molho pronto e queijo parmesao de supermercado.
Quatro quilos a mais de alma.

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E esse amor que transborda de mim afoga toda e qualquer magoa.
Coisas pequenas nao cabem em sentimentos grandes.

***

Ainda estou a pensar se prefiro baleias ou sereias.

***

Pronto. Decisao tomada. Agora apenas 3 refeicoes diarias.
Nada de guloseimas nem guludice.
Tudo na medida certa para sair da medida errada.

***

Armario aberto: caixas povoando as prateleiras.
Freezer aberto: dois suculentos sorvetes a me observar.
Geladeira aberta: algumas timidas e raras frutas para me salvar.

***

Nao eh porque a alma transborda que o corpo tem que acompanhar seu caminho.
Coisas eterias nao devem se confundir com coisas materiais.
Mundos distintos. Padroes divergentes.
Espelhos que, infelizmente, nao mentem.

***

quarta-feira, outubro 12, 2005

Biólogo não come, degusta.
Biólogo não cheira, olfata.
Biólogo não toca, tateia.
Biólogo não respira, quebra carboidratos.
Biólogo não tem depressão, tem disfunção no hipotálamo.
Biólogo não admira a natureza, analisa o ecossistema.
Biólogo não tem reflexos, tem mensagem neurotransmitida involuntária.
Biólogo não transa, copula.
Biólogo não fala, coordena vibrações nas cordas vocais.
Biólogo não pensa, faz sinapses.
Biólogo não toma susto, recebe resposta galvânica incoerente.
Biólogo não espera retorno de chamadas, espera feedbacks.
Biólogo não se apaixona, sofre reações químicas.
Biólogo não perde energia, gasta ATP.
Biólogo não divide, faz meioses.
Biólogo não faz mudanças, processa evoluções.
Biólogo não falece, tem morte histológica.
Biólogo não deixa filhos, apresenta sucesso reprodutivo.
Biólogo não deixa herança, deixa pool gênico.
Biólogo não tem inventário, tem hereditário.
Biólogo não deixa herdeiros ricos, pois seu valor é por peso vivo.

sábado, outubro 01, 2005

NOMES
Fernanda . Nanda . Nan . Nana (e a variacao com acento til no ultimo A) . Finha . Serafina . Josefina . Casinha . Casebre . Littlhe House . Minha Gatinha . Lindona . Nandoca . Filhinha . Filhona . Mana . Prima . Naninha . Fe . Nenda .


Inumeras formas de chamar uma unica pessoa. Cada qual com seu olhar e opinioes sobre quem eu seja, sobre o que eu gosto, ou deixe de ser e de gostar. Cada um conhecendo um pedaco. Vendo de uma perspectiva. Vivenciando um momento. Nunca EU. Sempre minhas versoes. Pedacos de mim.

Meias verdades? Digamos, incompletas. Pois a outra metade da verdade nao eh mentira. Eh o desconhecimento.

Nao ha como me definir. Talvez tracar um padrao de comportamento - tem horas que sou extremamente previsivel. Mas ninguem nunca acerta aonde eu vou chegar. Nunca sei onde vou chegar. Mas vou sempre. Vou em frente. Olhando as esquinas, as pessoas, os esquilos, cachorros, gatos e passaros (ainda nao consegui ver um veado por aqui). Na verdade sigo olhando muito mais.

Vejo o delinear do sol quase-poente na copa as arvores. A sutileza de mil cores que se escondem por detras do amarelo. Sinto cheiros conhecidos em lugares nunca idos. Me perco em cada rua. Me acho em cada re-encontro com algo antes visto. Senso de direcao terrivel. Uma memoria fotografica perfeita. Quase loucura.

Sigo sempre. Vou de frente. Contorno beiradas e precipicios. Pulo em alguns abismos. Atravesso esse escuro tuneo que me levara a mim. A lua me guia. Sim. Ha lua em tuneis escuros. So quem permanece de olhos bem abertos nao pode ver.

Eu. Talvez um dia descubra como me descrever. Nao as palavras. A melodia da cancao. Minha vida tem trilha sonora. Talvez por isso me de tao bem com musicais. Mullan Rouge. Amor, cor, musica. Estrelas guias de minha jornada. Sei do que nao gosto. Sei o que nao quero. Sei que tudo posso. Sim. Posso cair. Posso chorar. Posso errar. A perfeicao sempre esteve la fora. Eh apenas um reflexo que sigo. Nao quero ela em mim. Nao teria graca nao ter o que fazer, nao ter o que mudar, nao ter sobre o que pensar.

Nao sei se sao palavras, pensamentos ou sensacoes, mas minha garganta trava vez ou outra. Acredito na propria cura. Nao gosto de remedios - so quando aquela colica infernal vem de jeito. Prefiro a cura pelos bons pensamentos. Maluquice? Talvez. Nao direi que nao, so que funciona em mim. Entao, vou bem, obrigada.

Obrigado.

***

VIAGENS E SONHOS

As pessoas deveriam viajar antes de fincar raizes.
Dai as raizes iriam ser fincadas em terreno mais fertil e de forma mais segura.
Como escolher o que eh melhor, quando temos tao poucas opcoes?

O velho Drummond ja sabia o que falava quando dizia:
"Mundo, mundo, vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima nao uma solucao
Mundo, mundo, vasto mundo
Mais vasto eh o meu coracao."

Condenar-nos a ignorancia (no sentido da raiz da palavra) eh plantar os sonhos em terrenos onde alguns nunca sequer nascerao.

Ah... contra esse tipo de aborto eu sou contra!

***